
A Autéia nasce como um ato, um Ato Linguístico – não apenas como nome ou conceito, mas como um posicionamento pragmático sobre uma existência autista. Nossa missão é desconstruir narrativas normativas; e estas narrativas normativas, embora possam ser discursivas em torno da neurodiversidade, são muitas vezes, fixadas um tipo de necessidade diagnóstica. Portanto, este Ato Linguístico, sob o qual a Autéia nasce, faz reconstruir uma “gramática da subjetividade” , onde a experiência autista não seja um desvio, mas um modo legítimo de ser e habitar o mundo.
Fundamentamos nossa atuação em quatro pilares interconectados:
1. Pragmática da Autonomia: O Significado Está na Ação.
A linguagem não é neutra – ela define acessos, possibilidades e fronteiras da existência. A Autéia se estrutura não para adaptar autistas ao mundo neurotípico, mas para ressignificar os modos de interação . Inspiramo-nos na Pragmática , onde o sentido não está apenas na estrutura da linguagem, mas não é contexto em que ela opera. Assim, rejeitamos a ideia de que a comunicação autista deve ser “corrigida” para se adequar à norma: toda linguagem é válida no contexto de quem a usa.
2. Semântica da Subjetividade: O Autismo Como Significado Vivo.
A neurodiversidade não é um conceito fixo, mas um campo semântico em expansão . Baseamo-nos na Semântica Cognitiva para afirmar que a experiência autista é uma categoria de significado em constante movimento , cujas fronteiras não podem ser delimitadas por classificações arbitrárias (leve, moderada, severa). A subjetividade autista se constrói no uso e não na imposição de significados externos.
3. Verbos Psicológicos e a Construção do Eu.
Na Teoria dos Verbos Psicológicos, o significado da experiência mental não está no sujeito ou no objeto isoladamente, mas na relação entre eles. O autismo não deve ser descrito como um “ser” fixo, mas como um processo de tornar-se. A Autéia entende que “ser autista” é um verbo, não um substantivo. É um fazer-se contínuo, que emerge da interação entre mente, corpo e ambiente.
4. Filosofia da Linguagem e a Revolução da Neurodiversidade.
Se toda linguagem é um jogo de regras compartilhadas, uma neurodiversidade exige um novo jogo de linguagem . Inspiramo-nos na Filosofia da Linguagem para afirmar que a comunicação autista não deve ser traduzida para um código dominante, mas verificada em seus próprios termos . Assim como Wittgenstein propôs que o significado das palavras está em seu uso, afirmamos que a experiência autista só pode ser legitimamente compreendida dentro de sua própria lógica vivencial .
Autéia: Um Ato Linguístico de Emancipação.
Nossa missão é transformar o modo como a neurodiversidade é falada, percebida e vivida . Se a normatividade construída o autismo como ausência – de sentido, de conexão, de identidade – a Autéia afirma que o autismo é presença . Presença de novas formas de linguagem, de cognição, de relação com o mundo.
Nosso compromisso é desmontar o autos (αὐτός) e reconstruir o [Σε]αυτοῦ – não como isolamento, mas como um espaço ativo de existência , onde cada indivíduo autista possa narrar a si mesmo sem precisar ser traduzido.